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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Caribe: A Babel musical perfeita


Companheiros, devo admitir que, apesar do blues e do jazz me tirarem do sério, o estilo que considero o mais completo, dinâmico e instigante é a música cubana e caribeña em geral.
Justamente por reunir elementos tão variados, como música africana, latina, blues, metais e swing típicos do jazz, balanço dançante, fervor instrumental e vocal e suas múltiplas cores, vejo esta música como a ideal.
O que passa é que aquele pequeno pedaço de mar e ilhotas, tão importante cultural e políticamente, a verruga “importinente” na testa brilhosa e arrogante dos americanos no passado e até hoje em dia ainda (falo mais de Cuba, no caso) está numa posição tão estratégica que isso chega a ser emocionante e muito bonito, se você considerar que esta música é uma Babel, uma salada que influencia e é influenciada pelo som do Sul dos EUA (Mississipi, New Orleans e afins estão bem na borda, quase na costa), pela salsa e outros ritmos que se proliferaram pela Colômbia, Venezuela, México e outros, pelos africanos que vieram pra América Central como escravos e também pela música nortista brasileira (existem algumas batidas da música haitiana que lembram muito algumas coisas do Norte do Brasil, apesar de eu não estar certo a respeito de quem influenciou a quem).
Esse som desvairado é muito diversificado, parece que suas tantas vertentes nem “cabem” num território fisicamente tão pequeno. Salsa, rumba, cumbia, vallenato, mambo, merengue, latin jazz, etc. Salsa é como o nosso samba, o tango argentino. Muito prolificado, popular, obrigatório ali. Ao visitar Colômbia e Venezuela, particularmente a cidade colombiana de Cali, capital da salsa, de onde as grandes bandas vêm, pude sentir isso de perto. Conheci um cantor, Ángel Fuentes, famoso naquelas bandas, uma figura e tanto que faz shows de salsa pela América. Fervoroso, cantava aos brandos, a plenos pulmões enquanto dirigia pelas ruas de Cali, inspirado, um Frank Sinatra ou Tim Maia apimentado, amante da música, de seu país (apesar de morar na Colômbia ele é venezuelano), das muheres e da vida. O coroa, que pega onde no Brasil, dizia: “Isto é música”. E nada mais. Faz parte mesmo da vida deles.
Os temas das letras cubanas lembram os do blues e do samba. Lamento, dor de corno, saudades, conflitos sociais e políticos, tristeza e alegria pelos prazeres e belezas (mulheres, açúcar, charutos, ervas, mar, boemia, entre tantos outros) desta ilha incrível.
O que é engraçado é que, infelizmente, essa música, assim como as outras tantas da América Latina, entram pouco aqui no Brasil. Já refleti muito sobre o por quê disto, e creio que um dos motivos, além da língua diferente, é que aqui temos tantos ritmos, estilos e riqueza musical também, que é quase como se nos bastassem. Hoje em dia com internet, You Tube e tudo mais, a coisa já muda um pouco. Vemos alguns intercâmbios musicais com o rap, por exemplo, dialogando com coisas do México, de Cuba e outros países.
Mas chega de papo, abaixo alguns sons caribeños de grande qualidade: Celia Cruz com “El Yerbero”, Rubén Blades e seu “Pedro Navajas” (original de “Mack The Knife”, eternizado por Dean Martin ou Frank Sinatra), o “Mambo Numero 5” de Perez Prado, “El Pin Pin”, de Chano Pozo e a música haitiana da banda Boukan Guine. São pequenas amostras de toda a riqueza musical daquelas pequenas ilhas.













quarta-feira, 13 de julho de 2011

Dia do Rock: Exile on Main St.


Já que é Dia do Rock, resolvi prestar uma homenagem aqui no Crossroads a este “ritmo” que está diretamente linkado ao som do qual este blog trata.
Há controvérsias sobre o momento específico em que se criou um “primeiro rock”, é claro, assim como as origens de estilos literários e de cinema também são nebulosos. Para muitos, o marco, o germe do rock ‘n’ roll é Rock Around the Clock, interpretada e lançada por Bill Haley & His Comets em 1954. Rock Around the Clock não foi o primeiro rock (Haley já havia estourado em primeiro nas paradas americanas com Shake, Rattle and Roll, meses antes), mas é considerado o primeiro “estouro”, a primeira “febre roqueira” que contaminou a juventude nos anos 50.
Ou seria Chuck Berry o pai do rock? Ou seria Little Richard? Questão subjetiva, abstrata. Todos foram grandes, pioneiros. Entra aí até uma questão de preferência, de gosto.
Eleger a melhor canção, a melhor banda, ou o melhor disco, como a revista Rolling Stone e outras adoram fazer, é outra coisa tremendamente subjetiva. Gosto não se discute. Cada som, solo, verso cantado ou disco tem um efeito mais (ou menos) especial para cada ser humano. Pode nos fazer lembrar, por exemplo, de algum momento agradável (ou ruim)pelo qual passamos quando descobrimos a tal música ou o tal álbum.



Para mim, o melhor álbum de rock de todos os tempos se chama “Exile on Main Street”, lançado em Maio de 1972 pelos Rolling Stones. Lançado como álbum duplo, é um som mais complexo do que os anteriores lançados pela banda até então e traz uma série de gêneros embutidos, como puro rock ‘n’ roll, blues, country, soul e calypso (nada de Chimbinha e Joelma, por favor). É considerado uma obra-prima, e figura na tal lista da Rolling Stone como 7º melhor álbum de todos os tempos, numa lista de 500.
A história da gravação deste álbum, por si só, já vale a pena. Os Stones procuravam um estúdio pra gravar, na França, pois na Inglaterra deviam mais impostos do que podiam pagar, e, para evitar problemas com o governo, mudaram-se de país. Keith Richards tinha uma mansão próximo a Nice, e foi lá que quase todo o álbum foi constituído e gravado. Foram longas sessões noite e madrugada adentro, marcadas pelo vício crescente de Keith em heroína. Caras como o escritor beatnik William S. Burroughs e o músico Gram Parsons (que foi do Byrds e originalmente compôs Wild Horses) frequentavam o local, sendo este último expulso da casa de tanta loucura e abuso de drogas que vinham vivendo, sendo já pressionados pela polícia francesa. Uma das canções, “Happy”, composta e cantada por Richards, foi feita no único dia em que ele chegou cedo para gravar com a banda. Estavam somente Jimmy Miller, produtor da banda na época (o Mr. Jimmy citado na letra de “You Can’t Always Get What You Want”), e o saxofonista Bobby Keys, parceiro de farra de Keith. Além deles, estavam presentes na maioria das sessões Mick Taylor (o habilidoso guitarrista substituto de Brian Jones) e Charlie Watts. O baixista Bill Wyman e Mick Jagger dificilmente participavam destas sessões. Já havia um clima “separatista” entre os membros da banda, em grande parte baseado na conduta de alguns e de outros perante as drogas. Jagger, Wyman e Watts se mantinham distantes deste clima de chapação que pairava sobre a mansão de Keith. 



Outra parte do disco foi feita com gravações remanescentes das sessões do anterior e genial “Sticky Fingers”, e uma outra e grande parte gravada em Los Angeles (como os teclados e piano do mestre Billy Preston e de Dr. John), assim como todos os coros e backing vocals gospel maravilhosos que se escuta em várias faixas, influências de uma visita de Jagger e Preston a uma igreja evangélica local. Para quem não sabe, Billy Preston tocou piano e órgão no Let It Be e outros sons dos Beatles. Já foi inclusive meio que considerado o ingresso oficial do negão em ambas as bandas, como membro. O trabalho dele neste álbum é fenomenal e o disco não seria o mesmo sem ele.



Durante os dias de “Exile”, Jagger se casou com Bianca Jagger e Richards namorava Anita Pallemberg (ex de Jagger), com quem partilhava o uso da heroína e outras drogas. Keith não se livrou do vício até a virada da década. Mesmo assim este é considerado um dos melhores momentos do guitarrista, com um som forte, rude e cru. Já Mick estava muito entediado com o velho rock ‘n’ roll e queria experimentar com outros estilos, o que gerou desavenças e certo distanciamento entre eles. 



Apesar de tanta balbúrdia, problemas com a polícia, desentendimentos internos e doideira, provavelmente é o supra-sumo da banda. Este álbum é muito especial, muito único em seu som. Apesar de concordar que experimentação é sempre bom, e expandir para outros caminhos seria a evolução lógica e boa para a banda, para mim o que eles sempre fizeram de melhor é o bom e velho rock com suas marcadas raízes e influências. E fazem isso melhor do que ninguém. Há momentos de experimentação muito bons, como no disco “Black & Blue”, ou em “Tattoo You”, que são ótimos álbuns que vieram nos próximos anos. Mas o melhor dos Stones sempre será rock. Não é à toa que os discos solo da dupla de compositores nunca obtiveram muito êxito, em geral. Como disse uma vez Keith: “Jagger é ‘rock’, eu sou ‘roll’”. São o Yin e o Yang, sombra e luz, os Glimmer Twins, os gêmeos inseparáveis, como Steven Tyler e Joe Perry, os irmãos Gallagher, ou Johnson e Young.
O disco também traz um excelente trabalho estético em sua capa e encarte, trazendo uma série de fotos em P&B da banda e de personagens da cultura americana e mundial, alguns bizarros, uma miscelânea de anões, índios, jogadores de beisebol, dançarinas e gente do circo – toda uma temática de espetáculo, cabaré, show business.



Comprei este disco em 2006 e cada vez que escuto noto novos detalhes nos instrumentos, nas letras e vocais. Aos poucos foi se tornando meu preferido, por sua diversidade, pela temática gospel (Let it Loose, All Down the Line, entre outras), pelo glamour emocionado e refrescante de Tumbling Dice (impossível não imaginar uma noitada em Las Vegas ao ouvir esta), ou a rasgante e urbana Rocks Off, que abre o disco.
Ele foi re-lançado e remasterizado recentemente, com uma boa meia dúzia de novas músicas que tinham ficado de fora no original, das quais Plundered My Soul eu destaco aqui. O álbum pode ser ouvido ou baixado facilmente na net, mas aqui fica um pedaço dessa obra rara da música. Long live rock ‘n’ roll.


http://www.youtube.com/watch?v=1EoGf-h2VBM

sábado, 18 de junho de 2011

Delta Blues: Geeshie Wiley


Geeshie Wiley (às vezes creditada como Geechie Wiley) tocou e cantou blues (Delta Blues) no começo dos anos 30. Ela gravou 3 discos. Não há uma foto dela sequer, que se conheça, pra postar aqui.
Dizem (mas é incerto) que ela era de Natchez, Mississippi, e tinha um envolvimento amoroso com Papa Charlie McCoy. Nos anos 20 há indícios de que ela trabalhou num “Medicine Show” (feira de atrações, freaks, números musicais e onde se oferecia remédios milagrosos, no Sul dos EUA) em Jackson, Mississippi. Algumas evidências sugerem que após se divorciar de Memphis Minnie, Wiley pode ter se casado com Casey Bill Weldon.
“Se Geeshie Wiley não existisse, ela não poderia ser inventada: seu talento e criatividade aniquila a maioria dos blueseiros. Ela parece representar o momento em que a música secular negra estava se convertendo em blues.” (Comentário de Don Kent, no livro “Mississippi Masters: Early American Blues Classics 1927-35 (Yazoo CD 2007, 1994)



Em março de 1930 Wiley gravou “Last Kind Word Blues” e “Skinny Leg Blues” para a Paramount Records em Grafton, Wisconsin. Elvie Thomas fez a guitarra base. Thomas mesmo gravou duas canções desta vez: “Motherless Child Blues” e “Over to My House”, com Wiley tocando violão e fazendo harmonias vocais. Em março de 1931 Wiley e Thomas voltaram a Grafton e gravaram “Pick Poor Robin Clean” e “Eagles on a Half”.
Pouco mais se sabe sobre ela. Seu apelido “Geechie” era muito comum lá praqueles lados “costeiros” da Carolina do Sul e Georgia, e é um nome alternativo para um grupo étnico daquela região, os “Gullah”.
A música “Last Kind Word Blues” foi usada no excelente documentário “Crumb” (1994), de Terry Zwigoff, na cena em que Robert Crumb (papa dos quadrinhos underground, de quem sou fãzaço) põe um disco na vitrola e senta-se pra ouvir. Durante a música, uma seqüência de seus desenhos é mostrada. 



A técnica de violão é única: o uso que ela faz de um Lá menor em “Last Kind Words” é raro para uma artista de “blues rural”, e a utilização de um riff em Lá (normalmente associada a artistas do Texas) demonstra uma grande apreciação de sons excitantes, vigorosos, por parte dela.
Apesar de sua voz sensualíssima, a persona de Geeshie é tão bruta quanto um Charley Patton: “dinheiro antes, romance depois”, e ela diz docemente, enquanto apresenta seu charme sexual, que ela é capaz de matar você calmamente, em uma canção. Wiley gravou com Elvie Thomas em “Pick Poor Robin Clean”, onde se vê que ela não era uma uma musicista tão “técnica”, mas seu vocal assustadoramente belo em “Motherless Child Blues” revela uma poderosa presença entre os mais sublimes da música americana. Com igual força e imaginação vemos o arranjo de violão no tom Mi, provavelmente tocado por ela. Isso mostra traços de uma influência do norte do Mississippi, mas não há nada igual à parte do Si à sétima em todo o blues rural já feito. Um arranjo similar é usado em “Skinny Leg Blues”. A obra-prima de Wiley, “Last Kind Words”, em Mi, é um dos arranjos de violão mais imaginativos de sua era, e possivelmente um dos mais arcaicos. Apesar de ser pré-Primeira Guerra Mundial, já fala sobre a tal “Guerra Alemã”, e seu verso em “eight-bar” (blues em oito barras, um dos formatos básicos do blues) parece ser mais antigo.
Este texto foi parcialmente traduzido e incorporado ao nosso linguajar mais coloquial, em algumas partes, por mim. As fontes são o Wikipedia e o texto de Don Kent, já citado.
Abaixo, a letra de “Last Kind Words Blues”, e alguns vídeos desta mulher fantástica que precedeu Billie, Ella, Bessie, Aretha, Etta, Koko, e tantas outras damas do blues. Algumas palavras são inaudíveis e não se sabe o que ela diz, realmente.







Last Kind Words Blues
Geechie Wiley


The last kind word I heard my daddy say
Lord the last kind word I heard my daddy say

If I die, if I die in the German War
I want you to send my body, send it to my mother-in-law

If I get killed, if I get killed, please don’t bury my (soul) (sword)
I (p’fer) just leave me out, let the buzzards eat me whole

When you see me comin’, look ‘cross the (rich man’s) (Richland) field
If I don’t bring you flour, I’ll bring you (?)

(Guitar Solo)
I went to the depot, I looked up at the sign
Cry some train don’t come, there’ll be some walkin’ done

My momma told me, just before she died
Lord, (since the dawn, I thought you’d be so wise) (I brought you a piece of ?)

The Mississippi River, you know it’s deep and wide
I can stand right here, see my (babe) (face) from the other side

What you do to me baby, it never gets out of me
I mean I’ll see you, after I cross the deep blue sea.

terça-feira, 12 de abril de 2011

UMA BREVE CRONOLOGIA DO BLUES

1619 O primeiro navio de carga de escravos americanos é vendido para colonialistas na Virgínia. Logo em seguida começam a surgir as canções de lamentação nos campos. Nos séculos seguintes as canções de trabalho, tradição oral, crenças religiosas e praticas, e ritmos se misturaram com as melodias europeias e também com formas de música folk americanas. Então, a semente do blues foi plantada. 1833 Christian Friedrich Martin constroi seu primeiro violão feito na America.

Christian Friedrich Martin

1843 O primeiro show público de menestréis foi apresentado por todos os menestréis brancos de Virgínia com os rostos pintados de preto. Em manifestação para o direito dos negros de terem entretenimento. 1863 A Proclamação da Emancipação liberta os escravos nos estados confederados. Em 1870´s seguinte a Reconstrução, os estados do sudeste impõem a segregação. 1903 Lider de banda negro W. C. Handy ouve o Blues estilo Delta no Mississipi. 1910 Indignado por um linchamento W.E.B DuBois co-funda a Associação Nacional para o Progresso da População Negra. ( National Association for the Advancement of Colered People – NAACP). 1912 Handy lança “The Memphis Blues”. Baby Seals lança “ Baby Seals Blues” e Hart Wand e Lloyd Garret lança “Dallas Blues”. Essas são as primeiras composições com Blues no título. 1914 – Handy lança o hit “ St. Louis Blues”. Música que transforma o Blues em um estilo musical parte integrante da música popular americana. Mais tarde, ele se torna conhecido como o “Pai do Blues”.










1917 O “Chicago Defender” ( Jornal de Chicago ) chama os negros americanos para fugir do Sul e ir para o Norte em busca de melhores condições de vida. (O jornal, semanalmente publicava vagas de empregos e todo tipo de anúncios e informações, para ajudar as pessoas a migrarem). Os EUA entram na Primeira Guerra. 1919 Ratificação da Décima Oitava Emenda promulga a Proibição de venda de bebidas alcoólicas nos EUA. Bares ilegais de música ao vivo na época da proibição (conhecidos como speak-easies), festas em casas e estabelecimentos que tinham juke-box, atraiam os beberrões. Motins raciais se proliferam no Norte. 1920 Mamie Smith estabelece “Crazy Blues” como a primeira gravação de blues feita por uma negra pela Okeh Records.

A indústria fonográfica substitui as partituras enquanto o blues se populariza. O propagação do rádio disponibiliza a música a toda nação. 1922 A primeira leva de tratores para colheita chegam, ajudando os trabalhadores da roça. 1923 Ma Reiney grava “ Bo-Weavil Blues” pela Paramount e uma onda de novas cantoras de blues do sul aparece. 1925 Blind Lemon Jefferson faz a primeira gravação pela Paramount. O processo eletrônico de gravação é introduzido no mercado e as gravadoras pressionadas pela competição com as rádios lança novos estilos como o folk. 1927 Ocorre a grande enchente do Rio Mississipi. 1928 O Piano Blues surge nas adegas do Sul e nas festas de Chicago. Clarence “Pine Top” Smith faz sucesso com “ Pine´s Top Boogie Woogie”. Leroy Carr and Scrapper Blackwell são os pioneiros no dueto guitarra – piano. O take “It´s Tight Like That” de Tampa Red e Georgia Tom Dorsey apresenta a dança sexualmente carregada do piano blues conhecida como hokum blues. 1929 Surge o Black Friday (dia após o Dia de Ação de Graças, o qual há uma grande queima de estoque no país inteiro). Acontece a Grande Depressão. O mercado fonográfico perde força e gravadoras pedem falência nos próximos anos. Bessie Smith aparece no filme “St. Louis Blues”. Blind Lemon Jefferson morre congelado em uma tempestade de neve em Chicago. 1930 Bukka White estréia na Victor Records. 1933 A Proibição é revogada. John e Alan Lomax começam a garimpar o Sul em busca de artistas para gravações de folk e blues de campo. Assim, eles imortalizam Lead Belly quando o gravam em uma penitenciária na Louisiana. Graças ao novo acordo do presidente Roosevelt e Administração Pública do Trabalho, os Negros, que em geral eram Republicanos, começaram a mudar de partido. As autoridades do Vale do Tennessee criaram represas para conter as enchentes e erosões, enquanto abastecem parte do Sul com energia. 1934 Robert Johnson faz suas primeiras gravações para Vocalion. Dois anos depois ele morre no Mississipi, vítima de um whiskey envenenado. 1937 Bessie Smith morre em um acidente de carro no Mississipi. 1938 Carnegie Halla apresenta o primeiro festival From Spirituals to Swing, que tem como participantes Big Bill Bronzy, Sonny Terry, e outros grandes do blues. 1949 Lead Belly toca na França e se torna o primeiro blues man a tocar em carreira solo na Europa. 1961 A Columbia lança um LP coletânea do Robert Johnson chamado “ King of the Delta Blues Singers”. 1964 Recentimente redescobertos pelos fans de blues, Son House e Skip James tocam no Newport Folk Festival. 1976 A cantora e compositora Joni Mitchell vista o blueseiro Furry Lewis em Memphis. Essa experiência inspira a cantora a compor “Furry Sings the Blues”, a faixa está no álbum Hejira.


Trecho traduzido do livro American Roots Music. Páginas 34 e 35.

SANTELLI R., WARREN H.G., BROWN J. American Roots Music. Tradução das páginas: 34 e 35. New York, NY. Harry N. Abrams, Inc.


quinta-feira, 7 de abril de 2011

Inauguração da "casa"


Em sentido horário: Big Bill Broonzy, Bessie Smith, Muddy Waters e Robert Johnson.


Olá a todos!

Aqui começa uma viagem pelo mundo da música americana e africana de raíz, ou a black music e afins, enfim, todos estes estilos que a Andreia citou no primeiro post dela, abaixo. Este será um espaço para troca de informações, muitas vezes raras ou até obscuras, a respeito do tema – isto inclui textos (algumas vezes faremos traduções de livros americanos ou da Internet, misturadas aos nosso próprios textos), fotos e também vídeos musicais e documentários.
A idéia deste blog surgiu duma conversa casual entre dois amantes de rock e blues, a Andreia e eu, ambos ligados à criação fotográfica / audiovisual. O curioso foi descobrir que ambos já tinham esta idéia em mente há tempos. Eu pensava em criar algo assim mas nunca o fazia. Então, nada melhor do que escrevê-lo em parceria, a 4 mãos, expondo visões diferentes sobre o assunto.
Sou um aficionado por música, e talvez, como o escritor Julio Cortázar, um “trumpetista frustrado”, no sentido figurado. Apesar da paixão por artes plásticas e cinema, a música para mim é a forma de arte mais completa e inspiradora. Sou também um “velho”, no sentido musical. Aprecio uma porrada de coisas novas, mas o supra sumo da música para mim está lá nas raízes, tanto a brasileira quanto a americana, caribeña ou africana. Por que? Talvez porque há um século ou menos atrás, os recursos de captação, produção e gravação eram bem restritos, e isso vale para qualquer forma de arte: quanto menos aparatos e recursos, mais se vê, nu, o talento e a qualidade.

Escravos negros colhendo algodão em fazendas do Tennessee:  um dos cenários onde o blues foi "germinado".

Minha primeira ligação com essa história toda creio que foi uma gaita de boca que meus avós trouxeram para mim de Portugal. Acho que foi um dos brinquedos mais legais que tive, tanto que lá pros meus 13, 14 anos adquiri uma série de tons de gaita diatônica (de blues) e montei uma banda com dois amigos que na época aprendiam violão. Nesta época comecei a prestar atenção às fitas e CD’s que meu pai ouvia no carro – fitas K7 com músicas do comecinho de carreira dos Beatles, fase Hamburgo. Aquilo me deixou apaixonado pelo som dos anos 60 e aos poucos, timidamente, fui pegando aqueles discos pra ouvir: Beatles, Led Zeppelin,  Pink Floyd, Queen, enfim, tudo aquilo que a maioria dos pais da nossa geração gostavam. Jazz do período War Years também. Fiquei vidrado. 
Um pouco depois meu pai me deu uma coleção de blues que foi o tiro fatal. Robert Johnson, Muddy Waters, John Lee Kooker, Bessie Smith, The Yardbirds, John Mayall... isso mexeu muito com minha cabeça, e comecei a levar aquilo pro nosso som na banda. Fazia os caras ouvirem, isso era bom, isso era música. Tinha feeling, pegada, era um som sincero, feito com a alma. Passei a pesquisar a vida dos bluesmen, a trajetória rural-urbana, Chicago, New York, a influência do blues norte-americano sobre a British Invasion dos anos 60 (da qual fizeram parte Stones, Beatles, Kinks, Yardbids, Animals, Spencer Davis, e até Tom Jones), e aí entendi a coisa toda. 
Grande parte do que ouvimos hoje (eu já gostava de Red Hot, Pearl Jam e outras bandas mais atuais) eram direta ou indiretamente influenciadas pelo que saiu do Reino Unido nos anos 60, que por sua vez beberam na fonte norte-americana do blues, do folk e outros gêneros. Existe um vídeo, aliás muito engraçado (http://www.youtube.com/watch?v=PEA6gzAAPfc&feature=related), onde Chuck Berry briga com Keith Richards numa jam em estúdio, porque este último não acerta, por nada, o riff principal de “Carol”, música de Berry (ídolo de Keith). Com 16 anos um outro amigo da banda me apresentou a discos de vinil dos Stones do início de carreira. Isso foi uma grande influência também, pois em poucos anos se tornaram a minha banda de rock favorita, pelas influências que permanecem sendo as mesmas até hoje no som deles. 
Bob Dylan descobri também com uns 14, 15 anos, e achei genial desde o princípio, o que me levou a buscar as referências dele também, do country e da folk music.

Berry e sua famosa "duck walk".
A banda acabou, cada um foi seguir seu rumo, fazer faculdade, trabalhar, e o que ficou foi o gosto por todos estes sons que, infelizmente, hoje e no nosso contexto, têm pouco espaço por aqui. Alguns clubes e bares tocam bom jazz em Sampa ou Rio, mas ainda são poucos perto do que se vê em locais como Nova York, Londres, Berlin ou mesmo no Leste Europeu e até no Marrocos. 
Hoje coleciono discos de vinil e baixo música adoidado da Internet, como a maioria de nós. Considero meu gosto musical bem amplo, indo de rock e blues a MPB, música cubana, bossa, choro, jazz, samba, reggae... mas como disse minha colega, a mim também nada toca mais fundo na alma, em termos musicais, do que escutar uma voz negra declamando sua dor acompanhada somente de um violão, um cigarro e um sentimento – o tal do blue feeling.

Um abraço e bem-vindos!

Will

Welcome!

Fico pensando e já tentei entender inúmeras vezes o porque gosto tanto de música americana, sendo que sou brasileira. O certo seria eu gostar da minha música, da música do meu país, certo? Mas definitivamente não é isso que sinto. Respeito muito a música popular de meu país, e até gosto de muitos sons e ritmos nossos. No entanto, nada exalta minha alma como a música roots americana. Isso mesmo, música ROOTS americana. Não falo da música que toca nas rádios, música cormercial vazia. Mas sim de Blues, Jazz, Bluegrass, Zydeco, Tejano, Cajun, Country, Gospel, Honky-Tonky, Rock´n Roll, Folk e todos seus derivados. Música que conta histórias, que emociona.

A primeira vez que ouvi rock´n roll, The Beatles mais especificamente, eu era criança, devia ter meus 11 ou 12 anos, mas me lembro como se fosse hoje a sensação que tive ao colocar o disco, estava curiosíssima para saber o que contia alí. Sempre ouvira falar sobre eles, mas nunca tinha tido contato. Então, achei esse disco na casa dos meus tios. Me lembro da minha curiosidade vendo aquele disco duplo, capa vermelha, na primeira capa eles novos, na quarta capa eles mais velhos cabeludos e barbudos, pra mim aquilo era engraçado, diferente e fiquei curiosa, queria saber o que eles tinham a me dizer. Quando ouvi o primeiro som do disco, Love me do, uau... fiquei arrepiada... apesar de ser muito nova, aquilo pra mim foi um momento mágico... sem palavras!

Então foi amor a primeira vista, ou a primeira ouvida (risos). Eu nunca mais fui a mesma depois desse dia, nunca mais... Eu ouvia música brasileira, todos os estilos...mas agora, tinha descoberto o que realmente me provocava, me fazia questionar o mundo e a mim mesma, o rock´n roll. Tanto é que fui aprender inglês para entender o que eles estavam me dizendo, e hoje sou professora de inglês.

Bom, os Beatles não são americanos, são britânicos. Mas, antes de inovarem a música mundial, tocaram o simples e bom e velho rock´n roll americano de Buddy Holly e Chuck Berry. É disso que estou falando! E foi através dos Beatles que conheci esses caras. Ora, depois fui descobrindo muitas outras coisas do rock´n roll, e logo mais tarde, descobri que meu tio era fã de rock´n roll. Ai foram momentos inesquecíveis, conversas, histórias e mais histórias do rock que fui aprendendo com ele. E minha paixão só ia aumentando cada vez mais.

Teve uma época que fiquei cega, só via rock em tudo. Depois comecei a tocar e ficar mais seletiva no rock e passei a ouvir jazz, musica instrumental e blues. Mais tarde, comecei a estudar bandas específicas e ficar psico nelas. Fui ficando mais velha e sem desistir do que amava fui beber de outras fontes, e ai descobri que a minha pegada mesmo é a música americana. Até danço um forrozinho, um reggae, ska, ouço um chorinho ou uma bossa de vez em quando, é bem legal! Mas, nada me tira do sério com um slide de guitarra chorando a mulher amada ou um dia de sofrimento na plantação de algodão. Isso realmente me arrepia!

Decidi então, ir pesquisar um pouco sobre isso e compartilhar com os amigos que gostam do mesmo que eu. Todos estão convidados a participar. A intenção é aprender sobre esse universo tão maravilhoso que é o da musica roots americana. Música que atravessou fronteiras, inspirou o mundo e é tão genial. Mais uma vez, não quero comparar a música americana com a brasileira. A história da música brasileira deve ser tão ou até quem sabe mais genial que a americana. Porém, estou falando aqui de sentimento, algo que vem de mim e de todo mundo que compartilha do mesmo gosto musical que eu.

ENJOY!