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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Dia do Rock: Exile on Main St.


Já que é Dia do Rock, resolvi prestar uma homenagem aqui no Crossroads a este “ritmo” que está diretamente linkado ao som do qual este blog trata.
Há controvérsias sobre o momento específico em que se criou um “primeiro rock”, é claro, assim como as origens de estilos literários e de cinema também são nebulosos. Para muitos, o marco, o germe do rock ‘n’ roll é Rock Around the Clock, interpretada e lançada por Bill Haley & His Comets em 1954. Rock Around the Clock não foi o primeiro rock (Haley já havia estourado em primeiro nas paradas americanas com Shake, Rattle and Roll, meses antes), mas é considerado o primeiro “estouro”, a primeira “febre roqueira” que contaminou a juventude nos anos 50.
Ou seria Chuck Berry o pai do rock? Ou seria Little Richard? Questão subjetiva, abstrata. Todos foram grandes, pioneiros. Entra aí até uma questão de preferência, de gosto.
Eleger a melhor canção, a melhor banda, ou o melhor disco, como a revista Rolling Stone e outras adoram fazer, é outra coisa tremendamente subjetiva. Gosto não se discute. Cada som, solo, verso cantado ou disco tem um efeito mais (ou menos) especial para cada ser humano. Pode nos fazer lembrar, por exemplo, de algum momento agradável (ou ruim)pelo qual passamos quando descobrimos a tal música ou o tal álbum.



Para mim, o melhor álbum de rock de todos os tempos se chama “Exile on Main Street”, lançado em Maio de 1972 pelos Rolling Stones. Lançado como álbum duplo, é um som mais complexo do que os anteriores lançados pela banda até então e traz uma série de gêneros embutidos, como puro rock ‘n’ roll, blues, country, soul e calypso (nada de Chimbinha e Joelma, por favor). É considerado uma obra-prima, e figura na tal lista da Rolling Stone como 7º melhor álbum de todos os tempos, numa lista de 500.
A história da gravação deste álbum, por si só, já vale a pena. Os Stones procuravam um estúdio pra gravar, na França, pois na Inglaterra deviam mais impostos do que podiam pagar, e, para evitar problemas com o governo, mudaram-se de país. Keith Richards tinha uma mansão próximo a Nice, e foi lá que quase todo o álbum foi constituído e gravado. Foram longas sessões noite e madrugada adentro, marcadas pelo vício crescente de Keith em heroína. Caras como o escritor beatnik William S. Burroughs e o músico Gram Parsons (que foi do Byrds e originalmente compôs Wild Horses) frequentavam o local, sendo este último expulso da casa de tanta loucura e abuso de drogas que vinham vivendo, sendo já pressionados pela polícia francesa. Uma das canções, “Happy”, composta e cantada por Richards, foi feita no único dia em que ele chegou cedo para gravar com a banda. Estavam somente Jimmy Miller, produtor da banda na época (o Mr. Jimmy citado na letra de “You Can’t Always Get What You Want”), e o saxofonista Bobby Keys, parceiro de farra de Keith. Além deles, estavam presentes na maioria das sessões Mick Taylor (o habilidoso guitarrista substituto de Brian Jones) e Charlie Watts. O baixista Bill Wyman e Mick Jagger dificilmente participavam destas sessões. Já havia um clima “separatista” entre os membros da banda, em grande parte baseado na conduta de alguns e de outros perante as drogas. Jagger, Wyman e Watts se mantinham distantes deste clima de chapação que pairava sobre a mansão de Keith. 



Outra parte do disco foi feita com gravações remanescentes das sessões do anterior e genial “Sticky Fingers”, e uma outra e grande parte gravada em Los Angeles (como os teclados e piano do mestre Billy Preston e de Dr. John), assim como todos os coros e backing vocals gospel maravilhosos que se escuta em várias faixas, influências de uma visita de Jagger e Preston a uma igreja evangélica local. Para quem não sabe, Billy Preston tocou piano e órgão no Let It Be e outros sons dos Beatles. Já foi inclusive meio que considerado o ingresso oficial do negão em ambas as bandas, como membro. O trabalho dele neste álbum é fenomenal e o disco não seria o mesmo sem ele.



Durante os dias de “Exile”, Jagger se casou com Bianca Jagger e Richards namorava Anita Pallemberg (ex de Jagger), com quem partilhava o uso da heroína e outras drogas. Keith não se livrou do vício até a virada da década. Mesmo assim este é considerado um dos melhores momentos do guitarrista, com um som forte, rude e cru. Já Mick estava muito entediado com o velho rock ‘n’ roll e queria experimentar com outros estilos, o que gerou desavenças e certo distanciamento entre eles. 



Apesar de tanta balbúrdia, problemas com a polícia, desentendimentos internos e doideira, provavelmente é o supra-sumo da banda. Este álbum é muito especial, muito único em seu som. Apesar de concordar que experimentação é sempre bom, e expandir para outros caminhos seria a evolução lógica e boa para a banda, para mim o que eles sempre fizeram de melhor é o bom e velho rock com suas marcadas raízes e influências. E fazem isso melhor do que ninguém. Há momentos de experimentação muito bons, como no disco “Black & Blue”, ou em “Tattoo You”, que são ótimos álbuns que vieram nos próximos anos. Mas o melhor dos Stones sempre será rock. Não é à toa que os discos solo da dupla de compositores nunca obtiveram muito êxito, em geral. Como disse uma vez Keith: “Jagger é ‘rock’, eu sou ‘roll’”. São o Yin e o Yang, sombra e luz, os Glimmer Twins, os gêmeos inseparáveis, como Steven Tyler e Joe Perry, os irmãos Gallagher, ou Johnson e Young.
O disco também traz um excelente trabalho estético em sua capa e encarte, trazendo uma série de fotos em P&B da banda e de personagens da cultura americana e mundial, alguns bizarros, uma miscelânea de anões, índios, jogadores de beisebol, dançarinas e gente do circo – toda uma temática de espetáculo, cabaré, show business.



Comprei este disco em 2006 e cada vez que escuto noto novos detalhes nos instrumentos, nas letras e vocais. Aos poucos foi se tornando meu preferido, por sua diversidade, pela temática gospel (Let it Loose, All Down the Line, entre outras), pelo glamour emocionado e refrescante de Tumbling Dice (impossível não imaginar uma noitada em Las Vegas ao ouvir esta), ou a rasgante e urbana Rocks Off, que abre o disco.
Ele foi re-lançado e remasterizado recentemente, com uma boa meia dúzia de novas músicas que tinham ficado de fora no original, das quais Plundered My Soul eu destaco aqui. O álbum pode ser ouvido ou baixado facilmente na net, mas aqui fica um pedaço dessa obra rara da música. Long live rock ‘n’ roll.


http://www.youtube.com/watch?v=1EoGf-h2VBM

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