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sábado, 18 de junho de 2011

Delta Blues: Geeshie Wiley


Geeshie Wiley (às vezes creditada como Geechie Wiley) tocou e cantou blues (Delta Blues) no começo dos anos 30. Ela gravou 3 discos. Não há uma foto dela sequer, que se conheça, pra postar aqui.
Dizem (mas é incerto) que ela era de Natchez, Mississippi, e tinha um envolvimento amoroso com Papa Charlie McCoy. Nos anos 20 há indícios de que ela trabalhou num “Medicine Show” (feira de atrações, freaks, números musicais e onde se oferecia remédios milagrosos, no Sul dos EUA) em Jackson, Mississippi. Algumas evidências sugerem que após se divorciar de Memphis Minnie, Wiley pode ter se casado com Casey Bill Weldon.
“Se Geeshie Wiley não existisse, ela não poderia ser inventada: seu talento e criatividade aniquila a maioria dos blueseiros. Ela parece representar o momento em que a música secular negra estava se convertendo em blues.” (Comentário de Don Kent, no livro “Mississippi Masters: Early American Blues Classics 1927-35 (Yazoo CD 2007, 1994)



Em março de 1930 Wiley gravou “Last Kind Word Blues” e “Skinny Leg Blues” para a Paramount Records em Grafton, Wisconsin. Elvie Thomas fez a guitarra base. Thomas mesmo gravou duas canções desta vez: “Motherless Child Blues” e “Over to My House”, com Wiley tocando violão e fazendo harmonias vocais. Em março de 1931 Wiley e Thomas voltaram a Grafton e gravaram “Pick Poor Robin Clean” e “Eagles on a Half”.
Pouco mais se sabe sobre ela. Seu apelido “Geechie” era muito comum lá praqueles lados “costeiros” da Carolina do Sul e Georgia, e é um nome alternativo para um grupo étnico daquela região, os “Gullah”.
A música “Last Kind Word Blues” foi usada no excelente documentário “Crumb” (1994), de Terry Zwigoff, na cena em que Robert Crumb (papa dos quadrinhos underground, de quem sou fãzaço) põe um disco na vitrola e senta-se pra ouvir. Durante a música, uma seqüência de seus desenhos é mostrada. 



A técnica de violão é única: o uso que ela faz de um Lá menor em “Last Kind Words” é raro para uma artista de “blues rural”, e a utilização de um riff em Lá (normalmente associada a artistas do Texas) demonstra uma grande apreciação de sons excitantes, vigorosos, por parte dela.
Apesar de sua voz sensualíssima, a persona de Geeshie é tão bruta quanto um Charley Patton: “dinheiro antes, romance depois”, e ela diz docemente, enquanto apresenta seu charme sexual, que ela é capaz de matar você calmamente, em uma canção. Wiley gravou com Elvie Thomas em “Pick Poor Robin Clean”, onde se vê que ela não era uma uma musicista tão “técnica”, mas seu vocal assustadoramente belo em “Motherless Child Blues” revela uma poderosa presença entre os mais sublimes da música americana. Com igual força e imaginação vemos o arranjo de violão no tom Mi, provavelmente tocado por ela. Isso mostra traços de uma influência do norte do Mississippi, mas não há nada igual à parte do Si à sétima em todo o blues rural já feito. Um arranjo similar é usado em “Skinny Leg Blues”. A obra-prima de Wiley, “Last Kind Words”, em Mi, é um dos arranjos de violão mais imaginativos de sua era, e possivelmente um dos mais arcaicos. Apesar de ser pré-Primeira Guerra Mundial, já fala sobre a tal “Guerra Alemã”, e seu verso em “eight-bar” (blues em oito barras, um dos formatos básicos do blues) parece ser mais antigo.
Este texto foi parcialmente traduzido e incorporado ao nosso linguajar mais coloquial, em algumas partes, por mim. As fontes são o Wikipedia e o texto de Don Kent, já citado.
Abaixo, a letra de “Last Kind Words Blues”, e alguns vídeos desta mulher fantástica que precedeu Billie, Ella, Bessie, Aretha, Etta, Koko, e tantas outras damas do blues. Algumas palavras são inaudíveis e não se sabe o que ela diz, realmente.







Last Kind Words Blues
Geechie Wiley


The last kind word I heard my daddy say
Lord the last kind word I heard my daddy say

If I die, if I die in the German War
I want you to send my body, send it to my mother-in-law

If I get killed, if I get killed, please don’t bury my (soul) (sword)
I (p’fer) just leave me out, let the buzzards eat me whole

When you see me comin’, look ‘cross the (rich man’s) (Richland) field
If I don’t bring you flour, I’ll bring you (?)

(Guitar Solo)
I went to the depot, I looked up at the sign
Cry some train don’t come, there’ll be some walkin’ done

My momma told me, just before she died
Lord, (since the dawn, I thought you’d be so wise) (I brought you a piece of ?)

The Mississippi River, you know it’s deep and wide
I can stand right here, see my (babe) (face) from the other side

What you do to me baby, it never gets out of me
I mean I’ll see you, after I cross the deep blue sea.