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terça-feira, 12 de abril de 2011

UMA BREVE CRONOLOGIA DO BLUES

1619 O primeiro navio de carga de escravos americanos é vendido para colonialistas na Virgínia. Logo em seguida começam a surgir as canções de lamentação nos campos. Nos séculos seguintes as canções de trabalho, tradição oral, crenças religiosas e praticas, e ritmos se misturaram com as melodias europeias e também com formas de música folk americanas. Então, a semente do blues foi plantada. 1833 Christian Friedrich Martin constroi seu primeiro violão feito na America.

Christian Friedrich Martin

1843 O primeiro show público de menestréis foi apresentado por todos os menestréis brancos de Virgínia com os rostos pintados de preto. Em manifestação para o direito dos negros de terem entretenimento. 1863 A Proclamação da Emancipação liberta os escravos nos estados confederados. Em 1870´s seguinte a Reconstrução, os estados do sudeste impõem a segregação. 1903 Lider de banda negro W. C. Handy ouve o Blues estilo Delta no Mississipi. 1910 Indignado por um linchamento W.E.B DuBois co-funda a Associação Nacional para o Progresso da População Negra. ( National Association for the Advancement of Colered People – NAACP). 1912 Handy lança “The Memphis Blues”. Baby Seals lança “ Baby Seals Blues” e Hart Wand e Lloyd Garret lança “Dallas Blues”. Essas são as primeiras composições com Blues no título. 1914 – Handy lança o hit “ St. Louis Blues”. Música que transforma o Blues em um estilo musical parte integrante da música popular americana. Mais tarde, ele se torna conhecido como o “Pai do Blues”.










1917 O “Chicago Defender” ( Jornal de Chicago ) chama os negros americanos para fugir do Sul e ir para o Norte em busca de melhores condições de vida. (O jornal, semanalmente publicava vagas de empregos e todo tipo de anúncios e informações, para ajudar as pessoas a migrarem). Os EUA entram na Primeira Guerra. 1919 Ratificação da Décima Oitava Emenda promulga a Proibição de venda de bebidas alcoólicas nos EUA. Bares ilegais de música ao vivo na época da proibição (conhecidos como speak-easies), festas em casas e estabelecimentos que tinham juke-box, atraiam os beberrões. Motins raciais se proliferam no Norte. 1920 Mamie Smith estabelece “Crazy Blues” como a primeira gravação de blues feita por uma negra pela Okeh Records.

A indústria fonográfica substitui as partituras enquanto o blues se populariza. O propagação do rádio disponibiliza a música a toda nação. 1922 A primeira leva de tratores para colheita chegam, ajudando os trabalhadores da roça. 1923 Ma Reiney grava “ Bo-Weavil Blues” pela Paramount e uma onda de novas cantoras de blues do sul aparece. 1925 Blind Lemon Jefferson faz a primeira gravação pela Paramount. O processo eletrônico de gravação é introduzido no mercado e as gravadoras pressionadas pela competição com as rádios lança novos estilos como o folk. 1927 Ocorre a grande enchente do Rio Mississipi. 1928 O Piano Blues surge nas adegas do Sul e nas festas de Chicago. Clarence “Pine Top” Smith faz sucesso com “ Pine´s Top Boogie Woogie”. Leroy Carr and Scrapper Blackwell são os pioneiros no dueto guitarra – piano. O take “It´s Tight Like That” de Tampa Red e Georgia Tom Dorsey apresenta a dança sexualmente carregada do piano blues conhecida como hokum blues. 1929 Surge o Black Friday (dia após o Dia de Ação de Graças, o qual há uma grande queima de estoque no país inteiro). Acontece a Grande Depressão. O mercado fonográfico perde força e gravadoras pedem falência nos próximos anos. Bessie Smith aparece no filme “St. Louis Blues”. Blind Lemon Jefferson morre congelado em uma tempestade de neve em Chicago. 1930 Bukka White estréia na Victor Records. 1933 A Proibição é revogada. John e Alan Lomax começam a garimpar o Sul em busca de artistas para gravações de folk e blues de campo. Assim, eles imortalizam Lead Belly quando o gravam em uma penitenciária na Louisiana. Graças ao novo acordo do presidente Roosevelt e Administração Pública do Trabalho, os Negros, que em geral eram Republicanos, começaram a mudar de partido. As autoridades do Vale do Tennessee criaram represas para conter as enchentes e erosões, enquanto abastecem parte do Sul com energia. 1934 Robert Johnson faz suas primeiras gravações para Vocalion. Dois anos depois ele morre no Mississipi, vítima de um whiskey envenenado. 1937 Bessie Smith morre em um acidente de carro no Mississipi. 1938 Carnegie Halla apresenta o primeiro festival From Spirituals to Swing, que tem como participantes Big Bill Bronzy, Sonny Terry, e outros grandes do blues. 1949 Lead Belly toca na França e se torna o primeiro blues man a tocar em carreira solo na Europa. 1961 A Columbia lança um LP coletânea do Robert Johnson chamado “ King of the Delta Blues Singers”. 1964 Recentimente redescobertos pelos fans de blues, Son House e Skip James tocam no Newport Folk Festival. 1976 A cantora e compositora Joni Mitchell vista o blueseiro Furry Lewis em Memphis. Essa experiência inspira a cantora a compor “Furry Sings the Blues”, a faixa está no álbum Hejira.


Trecho traduzido do livro American Roots Music. Páginas 34 e 35.

SANTELLI R., WARREN H.G., BROWN J. American Roots Music. Tradução das páginas: 34 e 35. New York, NY. Harry N. Abrams, Inc.


quinta-feira, 7 de abril de 2011

Inauguração da "casa"


Em sentido horário: Big Bill Broonzy, Bessie Smith, Muddy Waters e Robert Johnson.


Olá a todos!

Aqui começa uma viagem pelo mundo da música americana e africana de raíz, ou a black music e afins, enfim, todos estes estilos que a Andreia citou no primeiro post dela, abaixo. Este será um espaço para troca de informações, muitas vezes raras ou até obscuras, a respeito do tema – isto inclui textos (algumas vezes faremos traduções de livros americanos ou da Internet, misturadas aos nosso próprios textos), fotos e também vídeos musicais e documentários.
A idéia deste blog surgiu duma conversa casual entre dois amantes de rock e blues, a Andreia e eu, ambos ligados à criação fotográfica / audiovisual. O curioso foi descobrir que ambos já tinham esta idéia em mente há tempos. Eu pensava em criar algo assim mas nunca o fazia. Então, nada melhor do que escrevê-lo em parceria, a 4 mãos, expondo visões diferentes sobre o assunto.
Sou um aficionado por música, e talvez, como o escritor Julio Cortázar, um “trumpetista frustrado”, no sentido figurado. Apesar da paixão por artes plásticas e cinema, a música para mim é a forma de arte mais completa e inspiradora. Sou também um “velho”, no sentido musical. Aprecio uma porrada de coisas novas, mas o supra sumo da música para mim está lá nas raízes, tanto a brasileira quanto a americana, caribeña ou africana. Por que? Talvez porque há um século ou menos atrás, os recursos de captação, produção e gravação eram bem restritos, e isso vale para qualquer forma de arte: quanto menos aparatos e recursos, mais se vê, nu, o talento e a qualidade.

Escravos negros colhendo algodão em fazendas do Tennessee:  um dos cenários onde o blues foi "germinado".

Minha primeira ligação com essa história toda creio que foi uma gaita de boca que meus avós trouxeram para mim de Portugal. Acho que foi um dos brinquedos mais legais que tive, tanto que lá pros meus 13, 14 anos adquiri uma série de tons de gaita diatônica (de blues) e montei uma banda com dois amigos que na época aprendiam violão. Nesta época comecei a prestar atenção às fitas e CD’s que meu pai ouvia no carro – fitas K7 com músicas do comecinho de carreira dos Beatles, fase Hamburgo. Aquilo me deixou apaixonado pelo som dos anos 60 e aos poucos, timidamente, fui pegando aqueles discos pra ouvir: Beatles, Led Zeppelin,  Pink Floyd, Queen, enfim, tudo aquilo que a maioria dos pais da nossa geração gostavam. Jazz do período War Years também. Fiquei vidrado. 
Um pouco depois meu pai me deu uma coleção de blues que foi o tiro fatal. Robert Johnson, Muddy Waters, John Lee Kooker, Bessie Smith, The Yardbirds, John Mayall... isso mexeu muito com minha cabeça, e comecei a levar aquilo pro nosso som na banda. Fazia os caras ouvirem, isso era bom, isso era música. Tinha feeling, pegada, era um som sincero, feito com a alma. Passei a pesquisar a vida dos bluesmen, a trajetória rural-urbana, Chicago, New York, a influência do blues norte-americano sobre a British Invasion dos anos 60 (da qual fizeram parte Stones, Beatles, Kinks, Yardbids, Animals, Spencer Davis, e até Tom Jones), e aí entendi a coisa toda. 
Grande parte do que ouvimos hoje (eu já gostava de Red Hot, Pearl Jam e outras bandas mais atuais) eram direta ou indiretamente influenciadas pelo que saiu do Reino Unido nos anos 60, que por sua vez beberam na fonte norte-americana do blues, do folk e outros gêneros. Existe um vídeo, aliás muito engraçado (http://www.youtube.com/watch?v=PEA6gzAAPfc&feature=related), onde Chuck Berry briga com Keith Richards numa jam em estúdio, porque este último não acerta, por nada, o riff principal de “Carol”, música de Berry (ídolo de Keith). Com 16 anos um outro amigo da banda me apresentou a discos de vinil dos Stones do início de carreira. Isso foi uma grande influência também, pois em poucos anos se tornaram a minha banda de rock favorita, pelas influências que permanecem sendo as mesmas até hoje no som deles. 
Bob Dylan descobri também com uns 14, 15 anos, e achei genial desde o princípio, o que me levou a buscar as referências dele também, do country e da folk music.

Berry e sua famosa "duck walk".
A banda acabou, cada um foi seguir seu rumo, fazer faculdade, trabalhar, e o que ficou foi o gosto por todos estes sons que, infelizmente, hoje e no nosso contexto, têm pouco espaço por aqui. Alguns clubes e bares tocam bom jazz em Sampa ou Rio, mas ainda são poucos perto do que se vê em locais como Nova York, Londres, Berlin ou mesmo no Leste Europeu e até no Marrocos. 
Hoje coleciono discos de vinil e baixo música adoidado da Internet, como a maioria de nós. Considero meu gosto musical bem amplo, indo de rock e blues a MPB, música cubana, bossa, choro, jazz, samba, reggae... mas como disse minha colega, a mim também nada toca mais fundo na alma, em termos musicais, do que escutar uma voz negra declamando sua dor acompanhada somente de um violão, um cigarro e um sentimento – o tal do blue feeling.

Um abraço e bem-vindos!

Will

Welcome!

Fico pensando e já tentei entender inúmeras vezes o porque gosto tanto de música americana, sendo que sou brasileira. O certo seria eu gostar da minha música, da música do meu país, certo? Mas definitivamente não é isso que sinto. Respeito muito a música popular de meu país, e até gosto de muitos sons e ritmos nossos. No entanto, nada exalta minha alma como a música roots americana. Isso mesmo, música ROOTS americana. Não falo da música que toca nas rádios, música cormercial vazia. Mas sim de Blues, Jazz, Bluegrass, Zydeco, Tejano, Cajun, Country, Gospel, Honky-Tonky, Rock´n Roll, Folk e todos seus derivados. Música que conta histórias, que emociona.

A primeira vez que ouvi rock´n roll, The Beatles mais especificamente, eu era criança, devia ter meus 11 ou 12 anos, mas me lembro como se fosse hoje a sensação que tive ao colocar o disco, estava curiosíssima para saber o que contia alí. Sempre ouvira falar sobre eles, mas nunca tinha tido contato. Então, achei esse disco na casa dos meus tios. Me lembro da minha curiosidade vendo aquele disco duplo, capa vermelha, na primeira capa eles novos, na quarta capa eles mais velhos cabeludos e barbudos, pra mim aquilo era engraçado, diferente e fiquei curiosa, queria saber o que eles tinham a me dizer. Quando ouvi o primeiro som do disco, Love me do, uau... fiquei arrepiada... apesar de ser muito nova, aquilo pra mim foi um momento mágico... sem palavras!

Então foi amor a primeira vista, ou a primeira ouvida (risos). Eu nunca mais fui a mesma depois desse dia, nunca mais... Eu ouvia música brasileira, todos os estilos...mas agora, tinha descoberto o que realmente me provocava, me fazia questionar o mundo e a mim mesma, o rock´n roll. Tanto é que fui aprender inglês para entender o que eles estavam me dizendo, e hoje sou professora de inglês.

Bom, os Beatles não são americanos, são britânicos. Mas, antes de inovarem a música mundial, tocaram o simples e bom e velho rock´n roll americano de Buddy Holly e Chuck Berry. É disso que estou falando! E foi através dos Beatles que conheci esses caras. Ora, depois fui descobrindo muitas outras coisas do rock´n roll, e logo mais tarde, descobri que meu tio era fã de rock´n roll. Ai foram momentos inesquecíveis, conversas, histórias e mais histórias do rock que fui aprendendo com ele. E minha paixão só ia aumentando cada vez mais.

Teve uma época que fiquei cega, só via rock em tudo. Depois comecei a tocar e ficar mais seletiva no rock e passei a ouvir jazz, musica instrumental e blues. Mais tarde, comecei a estudar bandas específicas e ficar psico nelas. Fui ficando mais velha e sem desistir do que amava fui beber de outras fontes, e ai descobri que a minha pegada mesmo é a música americana. Até danço um forrozinho, um reggae, ska, ouço um chorinho ou uma bossa de vez em quando, é bem legal! Mas, nada me tira do sério com um slide de guitarra chorando a mulher amada ou um dia de sofrimento na plantação de algodão. Isso realmente me arrepia!

Decidi então, ir pesquisar um pouco sobre isso e compartilhar com os amigos que gostam do mesmo que eu. Todos estão convidados a participar. A intenção é aprender sobre esse universo tão maravilhoso que é o da musica roots americana. Música que atravessou fronteiras, inspirou o mundo e é tão genial. Mais uma vez, não quero comparar a música americana com a brasileira. A história da música brasileira deve ser tão ou até quem sabe mais genial que a americana. Porém, estou falando aqui de sentimento, algo que vem de mim e de todo mundo que compartilha do mesmo gosto musical que eu.

ENJOY!