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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Inauguração da "casa"


Em sentido horário: Big Bill Broonzy, Bessie Smith, Muddy Waters e Robert Johnson.


Olá a todos!

Aqui começa uma viagem pelo mundo da música americana e africana de raíz, ou a black music e afins, enfim, todos estes estilos que a Andreia citou no primeiro post dela, abaixo. Este será um espaço para troca de informações, muitas vezes raras ou até obscuras, a respeito do tema – isto inclui textos (algumas vezes faremos traduções de livros americanos ou da Internet, misturadas aos nosso próprios textos), fotos e também vídeos musicais e documentários.
A idéia deste blog surgiu duma conversa casual entre dois amantes de rock e blues, a Andreia e eu, ambos ligados à criação fotográfica / audiovisual. O curioso foi descobrir que ambos já tinham esta idéia em mente há tempos. Eu pensava em criar algo assim mas nunca o fazia. Então, nada melhor do que escrevê-lo em parceria, a 4 mãos, expondo visões diferentes sobre o assunto.
Sou um aficionado por música, e talvez, como o escritor Julio Cortázar, um “trumpetista frustrado”, no sentido figurado. Apesar da paixão por artes plásticas e cinema, a música para mim é a forma de arte mais completa e inspiradora. Sou também um “velho”, no sentido musical. Aprecio uma porrada de coisas novas, mas o supra sumo da música para mim está lá nas raízes, tanto a brasileira quanto a americana, caribeña ou africana. Por que? Talvez porque há um século ou menos atrás, os recursos de captação, produção e gravação eram bem restritos, e isso vale para qualquer forma de arte: quanto menos aparatos e recursos, mais se vê, nu, o talento e a qualidade.

Escravos negros colhendo algodão em fazendas do Tennessee:  um dos cenários onde o blues foi "germinado".

Minha primeira ligação com essa história toda creio que foi uma gaita de boca que meus avós trouxeram para mim de Portugal. Acho que foi um dos brinquedos mais legais que tive, tanto que lá pros meus 13, 14 anos adquiri uma série de tons de gaita diatônica (de blues) e montei uma banda com dois amigos que na época aprendiam violão. Nesta época comecei a prestar atenção às fitas e CD’s que meu pai ouvia no carro – fitas K7 com músicas do comecinho de carreira dos Beatles, fase Hamburgo. Aquilo me deixou apaixonado pelo som dos anos 60 e aos poucos, timidamente, fui pegando aqueles discos pra ouvir: Beatles, Led Zeppelin,  Pink Floyd, Queen, enfim, tudo aquilo que a maioria dos pais da nossa geração gostavam. Jazz do período War Years também. Fiquei vidrado. 
Um pouco depois meu pai me deu uma coleção de blues que foi o tiro fatal. Robert Johnson, Muddy Waters, John Lee Kooker, Bessie Smith, The Yardbirds, John Mayall... isso mexeu muito com minha cabeça, e comecei a levar aquilo pro nosso som na banda. Fazia os caras ouvirem, isso era bom, isso era música. Tinha feeling, pegada, era um som sincero, feito com a alma. Passei a pesquisar a vida dos bluesmen, a trajetória rural-urbana, Chicago, New York, a influência do blues norte-americano sobre a British Invasion dos anos 60 (da qual fizeram parte Stones, Beatles, Kinks, Yardbids, Animals, Spencer Davis, e até Tom Jones), e aí entendi a coisa toda. 
Grande parte do que ouvimos hoje (eu já gostava de Red Hot, Pearl Jam e outras bandas mais atuais) eram direta ou indiretamente influenciadas pelo que saiu do Reino Unido nos anos 60, que por sua vez beberam na fonte norte-americana do blues, do folk e outros gêneros. Existe um vídeo, aliás muito engraçado (http://www.youtube.com/watch?v=PEA6gzAAPfc&feature=related), onde Chuck Berry briga com Keith Richards numa jam em estúdio, porque este último não acerta, por nada, o riff principal de “Carol”, música de Berry (ídolo de Keith). Com 16 anos um outro amigo da banda me apresentou a discos de vinil dos Stones do início de carreira. Isso foi uma grande influência também, pois em poucos anos se tornaram a minha banda de rock favorita, pelas influências que permanecem sendo as mesmas até hoje no som deles. 
Bob Dylan descobri também com uns 14, 15 anos, e achei genial desde o princípio, o que me levou a buscar as referências dele também, do country e da folk music.

Berry e sua famosa "duck walk".
A banda acabou, cada um foi seguir seu rumo, fazer faculdade, trabalhar, e o que ficou foi o gosto por todos estes sons que, infelizmente, hoje e no nosso contexto, têm pouco espaço por aqui. Alguns clubes e bares tocam bom jazz em Sampa ou Rio, mas ainda são poucos perto do que se vê em locais como Nova York, Londres, Berlin ou mesmo no Leste Europeu e até no Marrocos. 
Hoje coleciono discos de vinil e baixo música adoidado da Internet, como a maioria de nós. Considero meu gosto musical bem amplo, indo de rock e blues a MPB, música cubana, bossa, choro, jazz, samba, reggae... mas como disse minha colega, a mim também nada toca mais fundo na alma, em termos musicais, do que escutar uma voz negra declamando sua dor acompanhada somente de um violão, um cigarro e um sentimento – o tal do blue feeling.

Um abraço e bem-vindos!

Will

2 comentários:

  1. Aí está Will Pereira em seu habitat natural: a música! Música esta que inspirou tantas conversas inspiradas e divertidas nos bares da vida e nos retornos da ELCV de trem. Nada mais lógico a criação deste blog que versa sobre a música negra tão intensa da qual fazem parte o blues e o jazz. Quero ler futuramente um post sobre as minhas cantoras americanas favoritas: Ella Fitzgerald e Billie Holliday.
    E, claro, aprender um pouco mais com quem entende muito!

    Parabéns aos dois pela iniciativa, sucesso!!!
    Wesley
    http://wesleyescritosebesteiras.blogspot.com/

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  2. Wesley, nada mais inspirador e nostálgico do que ter lembrado do "trem" sentido Rio Grande da Serra. Foram 3 anos durante os quais eu tentava me convencer de que valia a pena cruzar a cidade cansado, vindo do meu trampo no Itaim, pra ver estes caras falarem sobre cinema. E valeu.
    A minha criação dificilmente se desvencilhará de quaisquer laços com a black music, seja no cinema ou nas artes plásticas. O meu tema é este. Assim como a viagem, o mar, o perambular (flanar?) e a mulher. Por falar em mulher, sim, falaremos destas musas que você citou, e também Koko Taylor ou Nina Simone. Mas espere, para o próximo post, outra "lady". Já estava nos meus planos. A Andreia falará sobre um bluesmen e eu sobre uma "blueswoman".
    Um grande abraço e vamos que vamos.
    Will

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